Esquecido.

Minha sede
é d'água
que cai lá fora
fina
pequena chuva
nem a terra molha
...
garganta seca
engole
poeira
resseca
seca
...
secam milos
planta
gado
tudo
vai secando
devagar
minguando
esquecido
...
tinha me esquecido
nem lembrava
atinava
patinava
rotina da vida
feito notícia
fato
mercadoria.

baboseira

De mansinho
nada mais
que de mansinho
pé
pós
pé
mais perto
mais longe
mesmo
mesmo lugar
andando
correndo
suando
abusando
da sorte
de ser assim
cheio de defeitos
repleto de mancadas
irrequieto por natureza
uma beleza
nenhuma certeza
besteira
baboseira
que falo
que tento falar
sobre a vida
detalhes
verdades
mentiras.

Duzentos e tantos.

Mortos
duzentos e tantos
sem ar
no calor
fogo.
As palavras ficam curtas
quando a ganância
mostra sua face mais tacanha
...
malvada
...
escória maldosa
que o lucro se poe
poe acima de tudo
das vidas
jovens
quase crianças
...
sonhos incendiados
planos abortados
corpos tostados
que não pagaram
pagaram pra sair
sair do inferno
até mesmo sair do inferno
tem seus preços
sim
no plural
e são vários
e são caros
valem vidas.

Dando voltas.

Simplório
indubitavelmente
simplesmente
simplório
...
pejorativo
termo
denigre
mas mesmo assim
simplório
nem tanto otário
nem tanto esperto
nem tanto mal
nem tanto bem
nada melancólico
simbólico
diabólico
eólico
...
flutuo
ou creio que flutuo
nos cosmos
feito planeta
cometa
satélite
que dando voltas
voltas na Terra
até ficar tonto
mais que o normal.

Nosso

Meu mundo
...
tá doente
hora seca
hora encharca
incendeia
congela
escurece em névoa tóxica
queima o sol a pele
rios morrendo
oceano fedendo
bichos que brilham na noite
gente alterada constantemente
...
morrendo
esta morrendo a olhos vistos
sendo sugado
penetrado
revirado
perdendo terra e água
ganhando lixo às toneladas
apodrecendo
não devagar
não mais lento
consumido
...
consumindo tudo
acima
abaixo
ao lado
em frente.
Atrás não
já foi tudo
digerido
restou apenas
entulho
...
meu mundo
nosso
nosso mundo.

Batatas.

Queria apenas
fazer coisas certas
mas enfim
o que fazer?
Fazer cotidianamente
o mesmo
burocraticamente
da mesma forma
instantaneamente
um estalar de dedos
acorda
ta na hora
acorda
pega a corda
e enrole no próprio pescoço
ou aos pés junto a uma pedra
na alma
feito ancora
presa ao fundo
na areia
na lama
...
fama
de palavras estranhas
de cometários maldosos
boquiaberto de sono
que porre!
Este papo tá um saco
de papas
batatas
potatos
...
abóboras.

Gastar

Vou
...
e volto.
Como io-io
pistão
couro de pica
...
frenético
endoidecido
decido
a mudar
...
mudar coisa de lugar
formar de pensar
o mundo
só para variar
...
irritar.
Irritar governo
e também oposição.
Alterar propostas
e também as apostas.
Diminuir a conta
e também as finanças.
Economizar água
luz
comida
gastança
...
Gastar idéias
gastar muito
muito mesmo.

Comuns

Duvideodó,
macaxeira mocotó,
burra velha
é a sua avó!
Brincadeira
fala séria
duvidando
escrachando
...
falando
mal
bem
...
dizendo
quem
quando
...
fazendo
e andando
...
percalços
traços
malescritos
rabiscos
malefícios
ditos
...
ditados
populares
escolares
vulgares
...
comuns.

pau na bunda

perspectiva,
questão de
...
de que melhor lhe convier
lhe parecer convincente
sim tem que convencer
matar a cobra
e mostrar o pau
...
pau-de-arara
pau-de-sebo
pau oco
pau torto
...
nasce
assim fica
não tem jeito
sem volta atrás
nenhum conserto
...
e nem concerto
nem banda
nem bunda
...
pau na bunda
...
pau na bunda
do otário
do pobre coitado
miserável
...
ta ferrado.

Olhando.

É redondo
o mundo
redondo
e da voltas
sobre si mesmo
eixo
...
circula
ao redor do Sol
tendo ao seu redor
a Lua
...
estrelas
estrelas salpicam
o céu noturno
e assim
...
assim vai e volta
o que vai
volta
...
ponto de partida
chegada
porta de saída
emergência
janela
...
abra
e se divirta
olhando pra fora
sem pressa
sem medo
sem tédio.

É meio que assim ...

Perspectivas
boas
boas
perspectivas
...
ativa
os instintos
a pele
a língua
...
afiada
lâmina afiada
na garganta
na ameaça
conflito
...
tanque perdido
avião esquecido
bala
na caixa
craniana
morte quase certa
...
maldade
pura
pura maldade
puxando o gatilho
sorrindo
desdenhando
rindo
...
é meio que assim.

Vamos?

Penso que sim
ou quem sabe
...
não!
Não sou de ferro
nem de barro
orgânico
atômico
cômico
...
rio sem graça
de uma má piada
as vezes nem rio
as vezes
...
esbravejo
falo na lata
que coisa sem graça
nenhuma graça
palhaçada
prefiro
chapéis engraçados
sapatos largos
calça caindo
...
em público
em plena praça
de frente ao coreto
que banda não toca
ainda bem
pois era um saco
...
bandinha
vamos dar uma bandinha
por ali
é pertinho
talvez outro país
planeta
sistema
...
vamos?

foi sem querer, querendo.

Quebrou-se o vidro

o cristal

o vaso

...

é de quebrar

a cara

quebrar as coisas

mesmo que sem querer

foi sem querer

querendo

...

parodiando a paródia

comediando na comédia

na média

com pão e manteiga

que engorda

que entope

sacia

a fome

...

orgânica

silenciosa

que habita

bocas famintas

não mintas

não finjas

não brincas

...

em serviço

...

não brincas em serviço

se torna sinistro

silhueta sem forma

estatueta sem brilho

...

sinto sede

de água

nada mais

que água.

Se liga o malandrão.

O que?
O que escrever?
Não sei,
nada me apeteceu
nada me aconteceu
nada me convenceu
nada
...
nada de mais
apenas falta
falta de vergonha
na cara
...
para
para com isso
e vai
vai trabalhar
vai pra ponte que partiu
caiu
...
no esquecimento
no frio cimento
no golpe de sorte
que sorte
que sorte que nada
que azar que nada
apenas não dê
sopa pro azar
nada de marcar
presta a atenção
se liga o malandrão
ligue-se.

Sem G.P.S.

Detalhes
pequenos
grandes
mudam as coisas
de lugar
de local
situação
...
na construção
derruba a ponte
...
na ilusão
destrói o sonho
...
na condução
altera o caminho
...
e eu
sem G.P.S.
achando o rumo
no instinto
que falho
me leva a lugares
me impulsiona a locais
me situa
no meio da tempestade
olho de furacão
...
pela tangente
tento
me safar
escapar
me mandar
...
pra outro lugar
baby.

Prazeres.

Enquanto isso

...

nos hospitais

gente em macas

nos corredores

...

sofrendo

gemendo

morrendo

...

em banheiras

de hidromassagem

borbulhantes

relaxantes

extravagantes

...

gastos

gastos exorbitantes

astronômicos

insultantes

...

insultam

afrontam

debocham

da gente

que sofre

geme

morre

...

no descaso

esquecidos

ludibriados

...

saqueados

de seus supostos direitos

supositórios perfeitos

feitos de euros

dólares

cruzeiros

...

pelo Caribe

azuis mares

coqueiros

prazeres.

Pito.

Mais atenuado

eu diria

até mesmo

atentado

...

cabelo espetado

nervos atacados

sentidos redobrados

ligado

...

tô ligado!

Na tomada

na parada

na cagada

...

que cagada

que nada

que tudo

que louco

...

ouço

barulhos

vozes

zumbido

pitos

...

tomaram um pito

que bom

muito bom

mesmo.

Sorrio.

Sumiu.

O mesmo
del mismo.
Nem posição
tanpoco oposición
igual
...
farinha do mesmo saco
quase gemeos
fatiam
países
tesouros
propinas
...
polpudas
graúdas
bem cheias
bastante gordas
feito musa renascentista
igual puta
que o pariu
...
partir
pros estrangeiro
com muito dinheiro
foi de barco
iate
veleiro
...
no sossego
de boa
fininho
saiu de fininho
e ninguém viu
sumiu.

Hummm ... que cheiro.

Essa foi
de pescador
daquelas
bem cabeludas
mentira
...
que coisa feia
tem perna curta
uma besteira
que pode
mudar o rumo
alterar contextos
esconder defeitos
...
os feitos
mais memoráveis
animais indomáveis
carros velozes
noites de sexo
vazio
...
vácuo
de tempo
de senso
comum
sair por ai
falando marmotas
lorotas
aboboras
...
e outros
outros hortifrutis
e também
granjeiros
papagaeiros
paneleiros
peixeiros
....
hummm
que cheiro.

Qto mais zona, melhor.

Documentos
cópias
autenticadas
simples
...
originais
sempre os originais
mas espere!
Se apresento os originais
qual o por que das cópias?
Burro
e a tal
burrocracia
melhor
digo:
burocracia
...
casa dos loucos
fundo perdido
desatino
ainda mais
na tal época do digital
scaneou
tá pronto
...
não precisa mais
simplificou.
Mas a quem interessa?
Quanto mais zoneado
melhor.
Assim se esconde
melhor
os desvios
de estrada
de emergência
de verba
...
polpuda
polpuda verba
de gabinete
de gaveta
de cueca
...
que isso minha gente
manda pra lavanderia
a conta?
manda para o governo.

nem mais nem menos

Meio que troço,
desajeitado,
desapegado,
largado
...
quase desleixado
quase.
Falta pouco para ser
mas vou lhe dizer
não é fácil
resistir
insistir
...
em fazer diferença
pelo menos pra mim mesmo
nem que seja de brincadeira
de travessura
molecagem
...
montagem
de um mundo a parte
dimensão paralela
viagem
ao centro
centro da cuca
buscando certas minúcias
detalhes
pequenos
pequenos detalhes
nada mais
nem menos.

cala-boca

Esse dia
hoje
estou inquieto
afoito
e por isso
não vou escrever nada
nem uma linha
nem palavra
...
vai que sai merda
sei lá
uma grande bobagem
mas bobagem é o que não falta
na política
na dívida
nos ganhos
...
tostões
merrecas
trocados
cala-boca
....
cala a boca
já morreu
quem manda na minha
boca
sou eu
...
eu que falo
um pouco de tudo
e quase nada
palavra pequena
verso de merda
compasso de espera
na fila
...
da fila sai
pelas esquerda
pelas direita
feito foguete
juguete
enfeite.

bastante +

Roubei um pouco de teu cheiro
e fui dormir contente
coisa de moleque
quase adolescente
...
inconsciente
de olhos abertos
sonhando
imaginando
criando:
mundo de faz de conta
lua de cantiga
dia de criança
...
brinca
na rua
descalça
apronta
mil e umas,
apronta
...
estou pronto
dedilhando cordas
igual como música se toca
e eu
eu que nem sei nada de música
entoou melodia
...
voz me falta voz
fala me falta fala
...
falta sentir
um pouco mais
teu cheiro
e mais
e mais
bastante mais.

curva

Não aprendo
efetivamente, não aprendo.
Burro velho
que empaca
que resmunga
bufa
...
no cangote
bufa no cangote
chega até respingar
saliva
baba
água
...
respinga
molha
lubrifica
...
cospe no chão
pro alto
sai de baixo
que la vem bomba
bala
enchente
...
levando
lixo
bicho
gente
tudo igual
na água lamacenta
se vão
rio abaixo
até a curva
e fica
fica na curva
curva de rio.

E agora.

Me entrego
foi sim,
premeditado
foi ato pensado
estudado
moldado
...
num instante
nem parei
para pensar
que mais poderia fazer
pelo menos pensar
foi mais forte
um piscar de olhos
descarga elétrica
choque
...
taquei o dedo
na tomada
era 220
cabelo subiu
pele arrepiou
olho estalou
...
meus olhos
não conseguem
ficar
alheios aos teus
e agora?
E agora seu Zé?

publico

Abunde-se abundância
abunde-se sobre nós
deixe-se mostrar
e venha nos dar
um cheiro
nem precisa ser beijo
apenas um cheiro.
Que nada
não quero dinheiro
pelo menos não
não muito,
um pouco tá bom.
Que seja assim:
oportunidades,
lutas,
conquistas;
gentilezas,
agradecimentos,
e olhos
...
nos olhos,
olhos nos olhos
me diga
qual teu desejo
qual teu segredo
...
não falo nada não
apenas publico
publico na web.